terça-feira, 21 de abril de 2009

Tiradentes: apenas um feriado

Eu acho que todos nós estamos acostumados à história dos feriados: tempo extra com a família, descansar um pouco, ir à praia, curtir com os amigos. Me dei conta, de repente, que esse feriado de Tiradentes estava escapando do meu automático e foi bater direto na consciência: afinal, pra que mesmo temos esse feriado?

Acho (acho...) que é desnecessário lembrar: Tiradentes, ou Joaquim José da Silva Xavier, mártir da Inconfidência Mineira, morreu enforcado em 1792 em Vila Rica por ter defendido a implantação da República. Foi esquartejado, sua cabeça colocada em um poste.

Li um comentário do historiador e pesquisador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de Minas Gerais, Olinto Rodrigues, hoje no UOL, dando conta de que a imagem de Tiradentes que passou à posteridade provavelmente é uma invenção. Condenados à morte naquela época iam para a forca barbeados e de cabelos cortados. A figura popularizada deve ter sido escolhida para associar a sua imagem à de Jesus Cristo. (http://noticias.bol.uol.com.br/brasil/2009/04/21/ult5772u3675.jhtm).

Puxando pela memória, eu criança, percebo como isso foi marcante. E entre tantos feriados, que a gente nem sabe por que existem, Tiradentes ficou no limbo da minha semiconsciência com um santo-herege-mártir.

Estou infeliz por me dar conta. Não por ter sido enganado, pois não seria justo (afinal de contas, foi minha fantasia de criança que, esquecida, não foi atualizada). A infelicidade é por saber que essa imagem foi criada e preservada para dar valor a algo que nos dias de hoje tem tão pouco valor: a nossa República.

Não quero dar uma de revolucionário aqui, mas convenhamos, o Cristovam Buarque tem toda razão ao sugerir um plebiscito para validar a dita cuja mencionada, mesmo que tenha sido apenas por brincadeira, ou como ele mesmo disse na última edição da revista Época, uma “metáfora” (http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI68922-15223,00-CAUSEI+UM+REBU.html).

Não dá para ter orgulho de um parlamento desmoralizado, onde o Deputados e Senadores são figurinhas carimbadas de escândalos, os partidos políticos não se distinguem (entre os acusados do furbudum das passagens aéreas têm deputado do PSol ao PMDB, passando pelo PV e PSDB) e os políticos não são exemplo de integridade para ninguém.

Não adianta tentar “enforcar” o Senador Cristovam Buarque, pois ele apenas expressou o que todos nós brasileiros sentimos: o Congresso não nos representa, o que queremos os políticos não querem e nem querem saber. Nos sentimos presos, amarrados, enforcados e esquartejados por um grupo que, por falta de uma opção melhor, compõem o que chamamos de “representantes do povo”. Que povo, cara-pálida?

Desculpem-me os bons políticos – sei que vocês existem, têm boas intenções e ideais – mas a sujeira é tanta e os escândalos tão freqüentes, que o que fica é o lado negro da força (ou da "forca"?).

Por isso, hoje fiz questão de agradecer ao tal Joaquim José da Silva Xavier pelo esforço e rezei pela sua alma. Mas ao Tiradentes, esse dos livros escolares, gostaria muito que não fosse usado para encobrir uma coisa que já não representa o que deveria, ou seja, o governo do povo, para o povo, pelo povo. Sou a favor de, pelo menos, ilustrá-lo sem o apelo religioso – sem barba e sem cabelos compridos.

De resto, não tive o que comemorar. Apenas aproveitei o meu feriado. Mas preferiria, mesmo, é ter trabalhado.

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